A criada lá de cima
É feita de papelão
Quando vai fazer a cama
Diz assim para o patrão:
“Sete e sete são catorze
Com mais sete são vinte e um
Tenho sete namorados
E não gosto de nenhum.”
No meio de tudo o que estava a acontecer, esta antiga rima
infantil teimava em aparecer na sua cabeça, a rasgar-lhe os véus finos e quase
transparentes, tecidos da forma mais complexa, da sua memória.
Tinha sido ela a descobrir o corpo.
Naquela manhã, havia música muito alta – aos berros, como se
costuma dizer - a vir do andar de cima. Não podia ser a sua vizinha, pois sabia
que ela estava de visita à família no sul do país. Então, imaginou que fosse a
sua empregada – não conseguiu evitar um sorriso, quando lembrou as palavras no
tom de voz, quase esganiçado, da vizinha, quando alguém se atreveu a sussurrar
a palavra ‘criada’: “Eu tenho uma empregada e não uma criada. Quem tem criada,
são os ricos. E eu não sou rica.”
Ela dirigiu-se ao andar de cima para pedir para baixarem o
volume, mas encontrou a porta aberta. Começou a empurra-la para chamar e foi então
que a viu, caída no chão da cozinha. Imediata e automaticamente, sem pensar em
mais nada, dirigiu-se ao telefone e marcou “112”.
E pronto. Foi o que bastou. A confusão ficou instalada.
Sem comentários:
Enviar um comentário