Hoje vamos fazer as coisas
de maneira um pouco diferente…
Ao vasculhar no meio das
minhas coisas, deparei-me com um texto, também da minha autoria, um tudo-nada
diferente dos meus trabalhos já aqui partilhados: trata-se de um artigo de
opinião.
07
de Junho de 2009
São 18h01 de Domingo,
07/06/2009. Dia de eleições para o Parlamento Europeu. E eu escolhi não votar.
É verdade, abstive-me.
Não vou apresentar
quaisquer desculpas esfarrapadas para a minha abstenção. Apenas escolhi
fazê-lo.
Muitas são as vozes que
consideram este meu simples gesto, uma verdadeira traição ao espírito de Abril,
às conquistas de Abril.
Permitam-me discordar.
Veementemente.
No meu muito pessoal e,
quiçá, discutível ponto de vista, considero a abstenção também uma conquista de
Abril. Foi a revolução de Abril que me deu a mim esta voz. E eu fi-la soar,
gritar bem alto.
Peço-vos, não me critiquem
por não querer votar. Antes me perguntem porquê: porque é que eu não quis
votar?
A resposta é simples e,
perdoem-me a presunção, creio que comum à grande maioria dos portugueses: eu
não confio nos políticos que temos. Com certeza que também os há bons e
competentes, em TODOS os quadrantes políticos, mas eu vejo e leio sobre tanta
porcaria e corrupção, novamente em TODOS os quadrantes políticos, que uma pessoa
fica deveras desencorajada…
Eu sei, eu sei: se eu não
voto, que moral me assiste para criticar os políticos eleitos?...
E também, se é verdade que
cada um só tem o que merece, muito provavelmente nós só temos os políticos que
merecemos…
Também me lembrei de uma
outra coisa: se não estou enganada, os referendos só são vinculativos com uma
aderência às urnas superior a 50%, não é assim? Pois bem, seria assim tão
impraticável aplicar o mesmo princípio ao acto eleitoral? Só com uma taxa de
abstenção inferior a 50%, o resultado das eleições seria válido. Caso
contrário, as eleições teriam que ser repetidas. No final de semana imediatamente
a seguir. Os custos que tal importaria seriam suportados, na totalidade, pelos
partidos políticos, à proporção da representação parlamentar de cada partido, à
data. E também, de cada vez que tivesse que haver uma repetição, isso
representaria um corte (sei lá… 10, 20%...) no vencimento dos políticos, como penalização
pela não mobilização do povo português.
Assim, matavam-se dois
coelhos com uma cajadada só, por assim dizer: obrigavam-se os políticos a
trabalhar e a fazerem por merecer o ordenado e também se elevava o interesse da
população portuguesa pelo acto eleitoral, calando assim todos aqueles que
defendem a obrigatoriedade de votar. Isso sim, um verdadeiro atentado às
conquistas de Abril.
Podem considerar tudo isto
extremamente utópico, do reino da fantasia…
Talvez… Talvez sim, talvez
não…
Como é mesmo aquela
frase?... Ah, sim: Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Então, peço-vos, deixem-me
sonhar…
Fátima d’Oliveira
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