Subitamente, o olhar distraído
de Leonor pousou no calendário pendurado na parede à sua frente.
Ela suspirou. Fundo, muito
fundo, do fundo de si, da sua alma.
O dia, aquele dia, estava quase
a chegar: faltavam duas semanas.
Leonor sempre tinha
gostado daquele dia e sempre tinha alimentado muitas expectativas.
Mas já não.
O seu aniversário.
Era disso que se tratava.
Leonor tinha um desejo
antigo, muito secreto, que trazia consigo. Sempre que o seu aniversário se
aproximava, Leonor enchia-se de esperanças e expectativas: seria desta? Seria
este o ano em que veria o seu desejo realizado?
Mas não.
Uma festa-surpresa.
Era tudo o que Leonor mais
queria.
Ano após ano, desilusão após
desilusão, Leonor tinha sempre o cuidado de plantar várias pistas, quer entre a
família, quer entre os amigos.
Mas as pistas nunca
vingavam.
Leonor já questionava se o
problema se encontrava onde plantava as pistas, se nela.
Nela, o problema devia
estar nela.
Devia ser extremamente
inábil a plantar pistas.
Por isso, agora, não faria
nada.
O dia chegaria e passaria.
E Leonor ficaria um ano
mais velha.
Só e apenas.
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