Mais que descansada, Madalena sentiu-se
aliviada.
Muito aliviada, mesmo muito.
Tal e qual aquele alívio que se
experimenta depois de se ir àquele–sítio–que–vocês–sabem.
Verdade seja dita e redita, Madalena
sentia-se envolver, afundar naquele sentimento, naquela sensação. Só que
voluntariamente. E de bom grado.
Era tão bom...
Estava feito.
Para o bem e para o mal, estava feito.
A partir dali, já bem pouco, ou mesmo
nada, importava. A coisa estava feita e quem não gostasse que se danasse: que
comesse menos e pusesse à bordinha do prato, a ver se ela, Madalena, se
importava... É o importas!!!...
“Psst!... Psst!...”
Mas que raio..., Madalena pensou para
com os seus botões, que por acaso nem os tinha.
“Menina, ó menina!”
Ela quase que se assustou com aquela
voz... Ali, bem no meio daquela imensidão feita de verde, Madalena julgava-se
sozinha, mas isso não acontecia. Um homem, já mais para o entradote que para o
rapaz novo, aproximava-se dela em passo de corrida – mas uma corrida um tanto
ou quanto lenta.
Quando finalmente o tal homem chegou ao
pé dela, o coitado já deitava os bofes pela boca. E Madalena pode constatar que
ele envergava uma espécie de farda.
“A menina...” Ele começou a dizer,
enquanto aspirava grandes quantidades de ar. “A menina... sabe quem eu sou?”
“Não.” Madalena afirmou com sinceridade,
depois de o observar bem.
“Sou o guarda do parque.” Ele
identificou-se, não sem uma ponta, ou melhor, muitas pontas de orgulho,
reveladas pelo enchimento do peito de ar.
“Sim?...”
“Sim.” Ele confirmou.
“E daí?” Ela quis saber.
“E daí?!...”
“Sim, e daí?” Madalena repetiu. “O que é
que eu tenho a ver com isso?”
“O que é que a menina...” O homem
começou a repetir, mas abruptamente interrompeu-se. “Ora essa, tem tudo!” E
continuou “A menina por acaso sabe, tem consciência do que acabou de fazer?”
“Eu?...” Madalena fingiu-se admirada.
Seguidamente, com quantos dentes tinha na boca – que eram muitos: a dentição
completa –, mentiu “Não.”
“O quê?...” O homem quase gritou. Mais
calmo, continuou “A menina está a gozar comigo, não está?”
“Eu?!... Não, não. Juro que não.”
Madalena disse, com a cara mais séria e inocente que conseguia fazer.
Houve um momento de silêncio.
“Bom”, o homem começou a falar “desta
vez passa, mas para a próxima...”
Novamente só, Madalena riu de si para
si.
Porque ela sabia muito bem o que tinha
feito.
Mas também, a culpa não era dela. Ou
melhor não era só dela.
Se responsabilidade fosse um bolo, a
fatia dela havia de ser a mais pequenina e fininha de todas. Sim, porque a
maioria, a chamada parte–de–leão, pertencia a todos aqueles que tinham pensado
naquele sítio: arquitectos, ideólogos, e outros tantos da mesma raça.
Mas aquilo não lembrava a ninguém, muito
menos ao diabo.
Olhem, tivessem feito mais casas de
banho. Ou lavabos. Ou “W.C.”. Ou “toilettes”.
Ou outra coisa qualquer.
Porque há falta delas...
Como é que o homem também tinha dito?...
Ah, sim... Que aquilo não se podia
fazer...
Não se podia?... Ora essa!...
Poder, podia...
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