Escretável.
Beto tinha apelidado
Eunice de “escretável”.
Quando Eunice ouviu aquela
não sabia se palavra pela 1.ª vez, quase que se desmanchou a rir. Foi
instintivo, pois ela nunca tinha ouvido tal coisa. Aquilo lembrava-a de escroto
e isso era algo que ela sabia não ter.
Beto devia estar a brincar
com ela, só podia.
Mas não.
Escretável, ele repetiu
muito sério.
Mas que raio seria isso,
“escretável”?...
Primeiro, Eunice quis
consultar o dicionário, não fosse às páginas tantas a palavra até existir
mesmo, ela é que não a conhecia. Mas não, nada. Ainda foi ver online, não se fosse dar o caso de ser
um vocábulo novo, que ela nunca tivesse ouvido. Mas novamente, nada.
Descartável?, Eunice ainda
pensou. Mas logo a seguir afastou a ideia: não, não fazia qualquer sentido.
Quereria ele dizer… “execrável”?...
Sim, se calhar, era isso… Por aproximação fonética e seguindo o sentido do que
Beto tinha dito a Eunice, essa era a hipótese mais segura: execrável.
Mas também, que ideia:
execrável, abominável…
Porque seria que ele lhe
tinha dito aquilo?...
Não importava…
Quer-se dizer… Importar,
até importava. Eunice tinha ficado triste, e muito, com aquelas palavras. Por
mais que ela fingisse não ligar, as palavras de Beto tinham-na magoado. Ainda
mais, por Eunice senti-las tremendamente injustas.
Que Beto considera-se
Eunice uma pessoa execrável, abominável, era um direito que lhe assistia. Por
mais que Eunice não gostasse, tinha que aceitar.
Agora, que a acusasse de
coisas que ela sabia não serem verdadeiras…
Isso deixava Eunice muito
triste.
É que Beto em sequer tinha
tentado falar com ela, para procurar saber da veracidade do que ele pensava
saber.
Não, ela tinha partido
logo para a acusação.
Eunice nem sequer se deu
ao trabalho de refutar as acusações de Beto: para quê?... Ela sabia que aquela
era uma batalha já perdida, pois ele acreditava piamente nas suas palavras, nas
suas acusações: Eunice lia a determinação nos olhos de Beto.
Uma determinação férrea,
cega… tóxica.
“Adeus”, foi tudo o que
ocorreu dizer a Eunice.
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