sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Prefácio


Durante alguns dias, vou aqui apresentar, dividido em 8 partes, um projecto, da minha autoria, que dá pelo nome de “Sete para sete”. Espero que gostem.

“Sete para sete” (1.ª parte)

Prefácio

Denomina-se esta colectânea de contos de Fátima d’Oliveira “Sete para Sete”, jogando afinal com a numerologia contista em presença. Mas, convenhamos, que se lhe poderia, com a mesma propriedade, chamar “O Mundo Transparente.”
Pois através de um percurso de concisos e clarividentes contos, a autora faz-nos viajar num mundo, quantas vezes, ordinariamente baço, tornado translúcido pela perspicácia interpretativa que os textos veiculam.
Através deles, vemos para lá do imediato, do ostensivo, daquilo que se impõe a um primeiro olhar.
Imediato que mais não é, muitas vezes, que um véu que não deixa vislumbrar realidades algo ocultas, menos evidentes, mas quase sempre mais concretas, mais sustentáveis poder-se-á dizer!
Reais se se quiser!
É assim a capacidade de filtrar a teia social e cultural para nos mostrar realidades mais íntimas e motivações mais claras que, num primeiro tempo, plasma o estilo literário da autora.
De tornar o mundo mais transparente, nas asas descritivas de uma realidade ficcionada.
Mas as virtudes da obra não se ficam por aqui!
Desenvolve-se num estilo de linguagem irreverente às vezes provocadoramente realista, que prende o leitor e o perturba. Que, dificilmente deixa alguém indiferente!
Concomitantemente com a capacidade de traduzir o quotidiano (quantas vezes monótono e aborrecido) num universo em que os personagens se agigantam numa dimensão humana ou humanista que os enforma e, de alguma maneira, dá sentido às suas vivências e sentimentos.
Para Fátima d’Oliveira, o Universo não é de facto, um mar de rosas. Mas é a maneira como o encaramos, como o interpretamos, como reagimos a aleatórias (ou não) felicidades ou infelicidades, que determina, afinal, o nosso papel nele.
As suas personagens, nem sempre compreendidas, nem sempre sujeitos das melhores opções, são pelo menos, indivíduos que não desistem. Que têm afinal inteligência para equacionar as suas acções e razões e vontade para as aplicar!
Nem sempre com os melhores resultados! Mas sempre com resultados!
Num explícito ou implícito, evidente grito de revolta contra o conformismo!
Esta segunda obra de Fátima d’Oliveira, numa área da escrita de difícil promoção, marca assim a maturação literária de uma autora que, se poderá dizer, nasceu para tal.
E, a quem, as contingências da vida (para muitos, obstáculos mais ou menos inultrapassáveis) têm servido de catalisador e potenciador de superiores qualidades intelectuais e literárias.

Aurélio Lopes:
  Possui uma licenciatura em Antropologia Social e um doutoramento em Antropologia Cultural, sendo também o autor de uma já vastíssima obra: “Religião Popular no Ribatejo”, edição da Assembleia Distrital de Santarém, 1995; “O Percurso de Selene: A Lua na Tradição Popular”, edição patrocinada pela Câmara Municipal de Santarém e INATEL, 1996; “Tempo de Solstícios”, Ed. O Mirante, patrocínio da Câmara Municipal de Santarém e Escola Superior de Educação de Santarém, 1998; “Fertilidade e Labor na Lezíria Ribatejana”, edição da Câmara Municipal da Chamusca, 1999 (2.ª edição: Garrido Edições, 2001); “A Face do Caos: Ritos de Subversão na Tradição Portuguesa”, Garrido Edições, 2000 (2.ª edição: 2001); “O B.I. das Mouras Encantadas”, colecção B.I.’s, Ed. Apenas, 2002 (2.ª edição: 2004, 3.ª edição: 2007); “Devoção e Poder do Espírito Santo”, Ed. Cosmos, patrocínio da Câmara Municipal de Santarém, 2004; entre muitos outros.

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