NOTA: Descobri este pequeno texto perdido no meio das minhas coisas, sobre uma mania, característica, tique, chamem-lhe o que quiserem, que me tira do sério.
Prontos!
Por tudo e por nada, prontos!
Luís, Luís, Luís... tem dó, não é
prontos. Diz-se pronto, percebeste? Pronto. Pronto. Pronto... Pronto!
Estamos entendidos? A sério? Óptimo!
Ai, este rapaz, este rapaz... Dá cabo de
mim!
Como é que disse?... Desculpe, não
percebi, pode repetir a pergunta?... O quê?... Quem sou eu?!... Ah, queira
desculpar, tem toda a razão. Não me apresentei. Pois é. É verdade, sim. Mas
isso também depressa se resolve. O meu nome é Isabel. Mas ninguém me chama assim.
Bela, Belinha, Bélita, Bé até. Qualquer coisa. Mas nunca Isabel. Não sei
porquê, se querem que vos diga. Isabel é um bonito nome, mas o que é que
querem?... Manias, o que é que se há-de fazer... Hã?... Qual a minha relação
com o Luís?... É isso que querem saber?... Olhem, diga-mos apenas que eu
conheço a peça e não se fala mais nisso.
Mas que aquela coisa do “prontos” me
irrita, ai isso irrita. Solenemente.
Até parece que não há outra palavra no
vocabulário português, pelo menos para aquela alma: acreditem-se quando vos
digo que em toda a santa frase, lá está o “prontos” da praxe. Mas olhem que é
mesmo em todas as frases. Seja no princípio, no meio, ou no fim. “Prontos”. É
impressionante.
Mas agora eu vos pergunto: alguém de
vocês aí me sabe explicar o que é essa coisa do “prontos”?
Pela lógica, será o plural de pronto,
mas é como vos digo, já não ponho a minha mão no fogo por nada.
Se eu até cheguei a pensar que “prontos”
era algum vocábulo novo... mas não, logo a seguir abandonei a ideia... É que, estão
a ver, a língua portuguesa pode ser muita coisa – traiçoeira, como diz o outro
–, mas não ia ter o mau gosto de acolher um vocábulo como “prontos”, não é
verdade... Não me lixem... Bem, e daí, já não vos digo nada, depois daquela
coisa que dá pelo nome de Acordo Ortográfico, já tudo é possível... até
ver um porco voar...
Mas vamos lá voltar ao Luís que, esse sim, é o motivo da minha presença.
Como eu estava a dizer, o rapazinho
tinha uma mania de bradar aos céus: prontos!.... Blá-blá-blá, prontos!... Blá-blá-blá,
prontos!
Aquilo era de tal forma que quando ele
começava com aquela lengalenga, a minha vontade era pregar-lhe um valente murro
entre os olhos e a vista. Escusado será dizer que, a fazer-se a minha vontade,
o Luís muito depressa ficava com sérios problemas oculares, tal não era a
profusão de “prontos” que o moço fazia questão de usar na sua linguagem oral.
Mas
também sempre vos digo que gostava, mas gostava mesmo, de saber aonde é que o
Luís foi buscar aquela palavra... se é que se pode chamar palavra àquela coisa,
àquela aberração, àquela... àquela... eu sei lá mais o quê!... Bom, vocês sabem
do que eu estou a falar, e isso é que interessa.
Fosse aonde fosse, foi mal.
E pior ainda, se alguém lhe indicou o
caminho.
Pois se é verdade que há muita coisa que
eu não sei, nunca soube e, muito provavelmente nunca vou saber, também é
verdade que há uma coisa que eu sei.
Não é prontos.
É pronto!
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