Assim mesmo.
Laura Linda.
Laura Linda?
Laura Linda.
Laura Linda… E porque não Laurinda?…
Porquê?…
Sim, porquê?… Sempre é mais simples…
Pois é, é mais simples, mas…
Mas, o quê?… Tens alguma coisa contra as
Laurindas, tens?…
Eu não, tenho lá alguma coisa contra as
Laurindas…
Então?…
Então, nada. É Laura Linda, e pronto.
Laura Linda.
Sim, Laura Linda. Não quero Laurinda.
E não queres, porquê?… Pode-se saber?…
Sei lá porque não quero. Não quero e
pronto.
Ai isso é assim?… Não queres e pronto?…
Sim senhor, também está bem.
Pois está, está até muito bem… Mas é que
não tenhas dúvida nenhuma.
Se tu o dizes…
E digo!…
Oh pá, não batas mais no ceguinho, que
já não está cá quem falou…
Então, mas quem é que manda aqui?…
…
Então, não querem lá ver isto…
…
Aonde é que eu ia?… Bolas, já me perdi.
E a culpa é tua!
Minha???…
Pois, tua.
Olha, que essa é muito boa. Tens bom
remédio, se te perdeste, só tens é que te achar.
Olha, olha… Vê lá se não te caiem os
dentes com a gracinha.
Pois, vá lá, continua mas é.
Continuo, o quê?…
A história, criatura.
Continuar?… Mas se eu ainda nem comecei…
Não começaste?… Mas tu mesmo certo estás
boa da cabeça?…
Eu?…
Pois, tu.
O que é que queres dizer com isso, “não estar
boa da cabeça”?
Então, pois, estás para ai a dizer que
ainda não começaste a história…
E, por algum acaso, comecei?
Por algum acaso, começaste.
Ah, comecei?…
Ah, pois… Se até já me destes um nome…
Ah, dei?…
Não te lembras?…
Lembrar do quê?
Do nome, do meu nome.
Sinceramente, não.
Laura Linda.
Quantos?…
Foi esse o nome que me destes, Laura
Linda.
Laura Linda?…
Sim.
Também está bem, Laura Linda.
Exactamente.
E porque não Laurinda?…
Ai a minha paciência…
Diz lá, porque é que eu te chamei Laura
Linda, e não Laurinda?…
E eu lá sei… Foi, foi, sei lá… Olha,
chamaste-me Laura Linda, e não Laurinda, porque tu assim o quiseste.
Ah, quis?…
Foi o que tu disseste.
Ah, disse?…
Oh, oh… Ouve lá, tu estás parva, não estás?…
…
Ou então, pior ainda, estás a fazer-me
de parva e eu a ver…
…
Mas tu mesmo certo estás a gozar
comigo?…
Por acaso…
Hã?…
Oh pá, anima-te, que eu estava só a
brincar contigo.
Como é que é?…
Estava só a brincar contigo, estás a perceber?…
Sei, a brincar….
Pois, só para ver se animava um bocado
as coisas.
Sei, a animar…
Isso. Então, agora ficas aí quietinha,
enquanto eu conto a tua história, pode ser?…
A minha história…
Sim. Portanto, nome tu já tens.
Laura Linda.
Exactamente, Laura Linda.
E mais?…
Mais?…
Sim, mais. Deste-me um nome, mas isso só
não chega.
Espera ai, que a gente já lá vai.
Como é que eu sou?…
Como é que tu és?…
Sim. Sou alta, sou baixa. Sou gorda, sou
magra. Sou loira, sou morena. Essas coisas….
Ah, isso… Pois olha, nem uma coisa nem
outra.
Hã?… Como diz que foi que disse?…
Não disse.
Cada vez percebo menos…
Ouve lá, eu não posso saber como tu és,
o teu aspecto.
Ah, não?…
Não.
Essa é boa… Mas não és tu que estás a contar
a história?
Sou.
Então…
Então, nada. Mas tu mesmo certo ainda
não percebeste?…
Percebi o quê?
Que tu ainda não nasceste.
Ah, não?…
Não, tu ainda estás dentro da barriga da
tua mãe.
Ah, estou?…
Sim, ainda estás aqui dentro.
“Aqui”?…
Pois.
Não percebo.
Então, ainda estás aqui dentro.
Aí dentro?…
Aqui dentro.
De ti?…
De mim.
Então isso quer dizer...
Isso quer dizer que vou ser mãe.
Mãe?…
Sim, mãe.
A
tua
mãe.
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