Isto é a história de uma história, e como todas as histórias
que se possam chamar histórias, deveria começar com “Era uma vez…”.
Mas não! Esta não é só (mais) uma
história. Esta é uma história do contra! Verdade! Não acreditam?… Pois então,
leiam…
Há não muito tempo, ou melhor, há muito
pouco tempo, havia uma rapariga, de nome Celeste. Acreditem-me quando vos digo
que essa menina não era nenhuma flor que se cheirasse, muito antes pelo
contrário! Só para terem uma ideia, sempre vou dizendo que a Celeste era má
como as cobras (não que eu tenha alguma coisa contra as ditas…).
Apesar de toda esta ruindade, a Celeste
tinha uma amiga, a Aurora, que pasme-se, era boa, boa, boa…. (boazinha, está
bem?… Nada de maus pensamentos…), doce como o mel (que é doce, ninguém dúvida,
mas tããããão peganhento).
Eram amigas, sim senhor, mas era uma
amizade no mínimo curiosa: se a Aurora dizia branco, a Celeste dizia preto, se
a Aurora dizia dia, a Celeste dizia noite, e por aí em diante.
Nesta história entra também um rapaz
(como não podia deixar de ser…), a fazer as vezes de príncipe (se encantado ou
não, não faço a mínima ideia): o Manuel, ou para ser mais fácil, o Manel.
Ora, a Celeste estava pelo beicinho pelo
Manel e ela bem que tentava arrastar a asa para o lado dele, mas ele, está
quieto ó meu! É que, estão a ver, o Manel andava perdido de amores pela Aurora.
E a Aurora?, perguntam vocês. Bom, a Aurora… Vamos lá a ser sinceros: a Aurora
não queria saber do Manel para nada. Para ela, tanto fazia se o Manel estivesse
vivo ou morto – era igual ao litro.
Imaginem só o desgosto do rapazinho!
Estão a ver a fita?… Dum lado a Celeste doidinha pelo Manel, no meio o Manel só
com olhos para a Aurora, e do outro lado a Aurora para quem o Manel não passava
de um insecto – e daqueles mesmo chatos, que dão vontade de esborrachar, devo
acrescentar.
Bom, e vocês tem que concordar comigo,
aquilo era uma situação muito pouco agradável, insustentável mesmo.
Vai daí, a Celeste decidiu pôr cobro
àquela situação: um deles estava a mais – três é uma multidão, não é assim?…
Num belo dia (pois estas coisas
acontecem sempre nos dias bonitos), a Celeste convidou a Aurora e o Manel para
um passeio a pé.
Os dois aceitaram de bom grado e,
felizes e contentes, lá foram os três.
“Aonde vamos?” quis saber o Manel.
“Por aí” foi a resposta da Celeste.
Andaram, andaram, andaram, até que
chegaram a uma ravina. Tanto a Celeste como a Aurora aproximaram-se logo da
beirinha, para assim terem uma melhor vista – deslumbrante, diga-se de
passagem.
“Manel, anda ver” chamou a Celeste.
“Não, obrigadinho” recusou o Manel.
“Anda cá ver, que isto é bonito”
insistiu a Celeste.
“Ai, não vou, não” voltou a recusar o
Manel.
“Ó Manel…” suplicou a Celeste.
“Não vou, não vou, não vou. Já disse que
não vou, e pronto” e bateu com o pé no chão.
“Porquê?” quis saber a Aurora.
“Bem”
e o Manel foi ficando vermelho que nem um pimentão “É que…”
“Sim?…” disseram a Aurora e a Celeste a
uma só voz.
“É que tenho medo das alturas” exclamou
o Manel muito depressa.
“Medo das alturas?!” repetiram a Aurora
e a Celeste.
“Schiu” o Manel mandou-as calar “É
segredo”
“Mas ó Manel” começou a Celeste “não
tens que ter medo. Estás comigo e com a Aurora e nós ajudamo-te”
“Sério?” e os olhos do Manel
iluminaram-se.
“Claro que estamos a falar a sério”
confirmou a Aurora “Anda cá, dá-me um braço, e dá o outro à Celeste”
“De certeza?” perguntou o Manel.
“Absoluta” disse a Celeste “Vá lá, dá-me
um braço”
“Está bem…” lá se deixou o Manel
convencer.
Deu um braço a cada uma e chegou-se à
beirinha.
“Então, que tal?” perguntou a Celeste.
“É ou não é lindo?” exclamou a Aurora,
mais para si do que para os outros.
“É… é maravilhoso!” gaguejou o Manel.
“Gostas, não gostas?” quis saber a
Celeste.
“Oh! Sim” disse o Manel extasiado
“muito”
“Então, chega-te aqui mais para a
beirinha” puxou-o a Celeste.
“O quê?” assustou-se o Manel.
“Não tenhas medo” sossegou-o Aurora “É
que assim tens muito melhor vista”
Muito a medo, o Manel deixou-se chegar
mais à beirinha, mas olhem, antes não o tivesse feito. Então não querem ver que
aquelas ……………. (este espaço é para lhes chamarem o que bem entenderem), mal o
Manel chegou à beirinha, largaram o pobre do rapaz e, olha!, foi um ar que lhe
deu: catrapum, lá em baixo.
“Oh, Celeste” chamou a Aurora “O Manel
caiu”
“Pois foi” concordou a Celeste “Então
não querem lá ver”
“Também” desdenhou a Aurora “não se
perdeu grande coisa”
“Sabes uma coisa?” disse a Celeste “Tens
toda a razão”
E foram-se embora, felizes da vida.
Acaba aqui esta história, e … o quê, o
que é que foi, o que é que se passa?… Não acharam piada ao fim?… Ai, filhos
(dos respectivos progenitores, bem entendido), tenham lá santa paciência, mas
eu avisei-os logo no principio de que isto ia ser uma história do contra. E
assim sendo, que outro fim poderia ter?…
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