domingo, 26 de fevereiro de 2012

E peixe para o gato


Pena (ê) (Lat. poena), s. f.  Dó; piedade, compaixão; pesar; mágoa; tristeza; sofrimento; condenação; punição; castigo; parte espalmada da bigorna;  (Lat. penna)  pluma; bico de escrever; caneta; escritor; estilo; asa do rodízio dum moinho;  (ant.) (Lat. pinna)  penha, fraguedo; rocha;  pena de água: veio de água, da grossura duma pena de pato.

Dicionários Domingos Barreira, Dicionário da Língua Portuguesa, Fernando J. da Silva, pág. 1184 (Editorial Domingos Barreira, Porto)



        Ana Luísa sentiu-se incomodada por aquilo que tinha acabado de ler. Sem saber bem porquê, algo nela se revoltou contra aquele artigo, crónica, sabia lá o quê. Mas quem é que aquele tipo pensava que era, para estar para ali a pensar, dizer, escrever aquelas baboseiras, pensou Ana Luísa. Bom, também pensou Ana Luísa, estamos num país livre e cada um tem o direito de expressar a sua opinião, goste-se ou não. E quem diz o que quer, ouve o que não quer, já lá diz o povo. Pois. Ela também gostava muito de dizer o que lhe dava na real gana, não o podia negar. E também arcava com as consequências, gostasse que não gostasse.
        Mas quanto mais Ana Luísa olhava para aquela página, mais ela sentia o seu desconforto crescer. Não que ela se sentisse atingida por aquelas palavras escritas. Não. Com toda a certeza, firmeza e todas as mais “ezas” possíveis e imaginárias, que não. Não, não e não. Definitivamente, não.
        Muito provavelmente tinham sido aquelas palavras iniciais que tinham levado Ana Luísa àquele estado de quase euforia: “Sempre tive pena…”. Pena??? Pena???… Mas quem era aquele chico esperto para dizer uma barbaridade daquelas?… Então, cada um era como cada qual e ninguém, mesmo ninguém, tinha nada a ver com isso. O resto, como já lá dizia o outro, eram cantigas. As pessoas faziam escolhas na vida, optavam por certos caminhos e pronto. Elas lá tinham as suas razões. E pronto. Ponto final, parágrafo.
        Então, cada um sabia de si e Deus sabia de todos, ou qualquer coisa que o valesse.
        Agora vinha de lá aquele de não sei das quantas da mula russa debitar a pena dele. Era preciso lata, muita lata. Ana Luísa sabia muito bem onde o dito cujo podia meter a peninha dele. Então não queriam cá ver isto?… Pena… Bah!… Quem tem pena, são os pássaros…
        Mesmo depois de ter lido todo o texto com atenção, nem assim aquela sensação de opressão abandonou Ana Luísa: mesmo depois de verificar que tudo aquilo tinha um destinatário bem definido, com morada completa, código postal e tudo, como manda o figurino, para ser meio caminho andado, Ana Luísa continuava incomodada.
        Não pelo texto, mas por aquela simples palavra, de quatro letras apenas: pena.
        Ana Luísa detestava a palavra, não a suportava, ia mesmo ao ponto de lhe causar comichões: evitava todo o custo fazer uso dela.
Havia quem lhe chamasse maluca, doida e mais, mas Ana Luísa lá sabia. Podia lamentar, desejar que assim não fosse, mas nunca que nunca tinha pena. Pena revelava ignorância, desconhecimento. Quem tem pena, é quem não sabe. Ou não quer saber.
        E o pior cego é aquele que não quer ver.






Este pequena história, conto, sei lá... coisa, também pode ser... Esta coisa, ou coisinha, tanto faz, foi inspirada... não, não... não é essa a palavra... originada, pode ser... causada, também... accionada!... sim, é essa a palavra, accionada, de accionar... portanto... onde é que eu ia?... ah, sim... blá-blá-blá foi accionada (assim, sim), ou algo que o valha, pelo artigo publicado na revista “Máxima” n.º 151, do mês de Abril do ano de 2001, na página 99, na  rubrica   “s.o.s. homem”,   da autoria de  Miguel  Sousa  Tavares, com o título de “Acorrentados”.

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