Pena (ê) (Lat. poena), s. f. Dó; piedade,
compaixão; pesar; mágoa; tristeza; sofrimento; condenação; punição; castigo;
parte espalmada da bigorna; (Lat. penna) pluma; bico de escrever; caneta; escritor;
estilo; asa do rodízio dum moinho; (ant.) (Lat. pinna) penha, fraguedo;
rocha; pena de água: veio de água, da grossura duma pena de pato.
Dicionários Domingos Barreira,
Dicionário da Língua Portuguesa, Fernando J. da Silva, pág. 1184 (Editorial
Domingos Barreira, Porto)
Ana Luísa sentiu-se incomodada por
aquilo que tinha acabado de ler. Sem saber bem porquê, algo nela se revoltou
contra aquele artigo, crónica, sabia lá o quê. Mas quem é que aquele tipo
pensava que era, para estar para ali a pensar, dizer, escrever aquelas
baboseiras, pensou Ana Luísa. Bom, também pensou Ana Luísa, estamos num país
livre e cada um tem o direito de expressar a sua opinião, goste-se ou não. E
quem diz o que quer, ouve o que não quer, já lá diz o povo. Pois. Ela também
gostava muito de dizer o que lhe dava na real gana, não o podia negar. E também
arcava com as consequências, gostasse que não gostasse.
Mas quanto mais Ana Luísa olhava para
aquela página, mais ela sentia o seu desconforto crescer. Não que ela se
sentisse atingida por aquelas palavras escritas. Não. Com toda a certeza,
firmeza e todas as mais “ezas” possíveis e imaginárias, que não. Não, não e
não. Definitivamente, não.
Muito provavelmente tinham sido aquelas
palavras iniciais que tinham levado Ana Luísa àquele estado de quase euforia:
“Sempre tive pena…”. Pena??? Pena???…
Mas quem era aquele chico esperto para dizer uma barbaridade daquelas?… Então,
cada um era como cada qual e ninguém, mesmo ninguém, tinha nada a ver com isso.
O resto, como já lá dizia o outro, eram cantigas. As pessoas faziam escolhas na
vida, optavam por certos caminhos e pronto. Elas lá tinham as suas razões. E
pronto. Ponto final, parágrafo.
Então, cada um sabia de si e Deus sabia
de todos, ou qualquer coisa que o valesse.
Agora vinha de lá aquele de não sei das
quantas da mula russa debitar a pena dele. Era preciso lata, muita lata. Ana
Luísa sabia muito bem onde o dito cujo podia meter a peninha dele. Então não
queriam cá ver isto?… Pena… Bah!… Quem tem pena, são os pássaros…
Mesmo depois de ter lido todo o texto
com atenção, nem assim aquela sensação de opressão abandonou Ana Luísa: mesmo
depois de verificar que tudo aquilo tinha um destinatário bem definido, com
morada completa, código postal e tudo, como manda o figurino, para ser meio
caminho andado, Ana Luísa continuava incomodada.
Não pelo texto, mas por aquela simples
palavra, de quatro letras apenas: pena.
Ana Luísa detestava a palavra, não a
suportava, ia mesmo ao ponto de lhe causar comichões: evitava todo o custo
fazer uso dela.
Havia
quem lhe chamasse maluca, doida e mais, mas Ana Luísa lá sabia. Podia lamentar,
desejar que assim não fosse, mas nunca que nunca tinha pena. Pena revelava
ignorância, desconhecimento. Quem tem pena, é quem não sabe. Ou não quer saber.
E o pior cego é aquele que não quer ver.
Este pequena história,
conto, sei lá... coisa, também pode ser... Esta coisa, ou coisinha, tanto faz,
foi inspirada... não, não... não é essa a palavra... originada, pode ser...
causada, também... accionada!... sim, é essa a palavra, accionada, de
accionar... portanto... onde é que eu ia?... ah, sim... blá-blá-blá foi
accionada (assim, sim), ou algo que o valha, pelo artigo publicado na revista
“Máxima” n.º 151, do mês de Abril do ano de 2001, na página 99, na rubrica
“s.o.s. homem”, da autoria
de Miguel Sousa
Tavares, com o título de “Acorrentados”.
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