“A
igreja estava toda iluminada…”
Ali mesmo, prestes a
caminhar para o altar no que se suponha ser o dia mais feliz da sua vida, Maria
da Luz não conseguia tirar aquela melodia da cabeça.
Mas Maria da Luz não queria
saber. Só lhe interessava agora o que estava prestes a acontecer: o seu
casamento com Abel, o seu mais que tudo. O homem que tinha a certeza amar.
Sorrateiramente espreitou
para dentro da igreja e viu que todos os convidados já estavam placidamente acomodados
nos respectivos lugares, com uns a primarem pela elegância, outros nem por
isso.
Viu também a igreja
selecta e graciosamente enfeitada com flores, distribuindo pelo ar um airoso
perfume.
E foi com um arrepio de
ternura que pode observar Abel, no alto do seu fato escuro e a respirar
virilidade por todos os poros da sua pele morena, a esperá-la a ela, Maria da
Luz, junto ao altar.
Aos primeiros acordes da
“Marcha Nupcial”, Maria da Luz entrou na igreja, pelo braço do seu
circunspecto, mas de certeza feliz, pai.
Junto ao altar,
sentindo-se mais e mais apertado dentro do seu muito garboso fato, Abel não
queria acreditar no que lhe estava prestes a acontecer. Ia casar-se. Casar-se.
Logo ele, que sempre tinha dito que nunca, jamais, em tempo algum, daria tal
passo, assumiria tal compromisso.
Mas ela… Ela merecia.
Maria da Luz, a sua Luzinha. Por ela, ele estaria disposto a dar tal passo.
Não obstante a sua vontade
em construir uma vida a dois com Maria da Luz, abençoados por Deus Nosso
Senhor, Abel sentiu gotas de suor a formarem-se na sua testa, apesar da aragem
fresca daquela manhã de Maio.
Estava Abel a preocupar-se
com o seu possível cheiro a suor, «Espero que ninguém dê por nada!», quando os
primeiros acordes da “Marcha Nupcial” o arrancaram dos seus pensamentos mais
íntimos, dos seus medos mais profundos.
E eis que ela, Maria da
Luz, entrou. A sua Luzinha!... Estava… linda!... Linda, linda, linda!... Abel
apenas conseguia olhar para ela, com as lágrimas teimosas a querer inundar os
seus olhos.
Quando o pai de Maria da
Luz deu a Abel o braço da filha, ele só conseguiu olhar para ela, hipnotizado:
só tinha olhos para ela, a sua noiva, a
sua Luzinha.
“Caros amigos”, o padre
começou. Mas não acabou.
Não, o padre não acabou.
Realmente começou, “Caros amigos”,
mas não acabou.
Não conseguiu.
Nem iria conseguir.
Caiu redondo no chão,
fulminado por um ataque de coração.
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