sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Princípio, meio e

       
        Bom, vamos lá por partes, há que começar pelo principio, não é assim?… (pelo menos, acho que sim)
        Então, ala que se faz tarde.
        Primeiro, as personagens.
        Uma rapariga, não mais diferente nem mais igual às outras. Uma mulher. Chamar-lhe-emos “Ela”.
        E um rapaz, parecido com todos e com nenhum. Um homem. Vamos chamar-lhe “Ele”.
        A profissão d’Ela não interessa, tão pouco a ocupação d’Ele.
        Chovia, chovia bem. E estava calor, muito calor.
        Foi à porta de uma loja onde ambos procuraram refúgio, debaixo do toldo da montra, das catadupas de água que caiam.
        Ele soprou. Mas que raio de tempo!… Se aquilo tinha algum jeito: chover a potes e estar sol. Como era mesmo aquele dizer?… Qualquer coisa com chuva, sol, e uma velha…
        A chover e a fazer sol e a velha a comer pão mole.
        Era isso mesmo! Mas quem tinha falado? Ele procurou e encontrou.
        Ela estava ali.
        Ele também. Aquele tempo era mesmo uma maçada, não era?
        Ela encolheu os ombros. Era verdade que não gostava muito de andar à chuva, de apanhar molhas e ficar com a roupa colada ao corpo, mas gostava do aroma, do perfume.
        Perfume?!
        Sim, de fertilidade. Aquele cheiro de terra molhada. Ele não sentia?
        Ah!… Sim, sim. Ele sentia.
        Ela sorriu
        Ele também.
        E para principio já chega.
        É a vez do meio.

        Voltaram-se a encontrar num dia fresco, com muito vento.
        Viram-se ao mesmo tempo e reconheceram-se de imediato.
        Sorriram.
        Ele falou primeiro. Olá, há já algum tempo que não a via. Que era feito?
        Oh, Ele sabia como era, muito trabalho e pouco tempo…
        E agora, Ela estava com tempo?
        Agora?… Consultou o relógio: agora sim, algum – não muito, mas algum.
        Óptimo! Então Ela podia ir com Ele ali ao café da esquina beber qualquer coisa?
        Está bem!
        Vão.
        O que é que Ela bebe?
        Um sumo de ananás fresco.
        Ele, uma imperial.
        Então…
        Então…
        Ele riu-se. Assim, não iam a lado nenhum. Ele queria falar com Ela, conversar com Ela, mas para isso Ela não podia ficar calada, muda e queda. Tinha que dizer alguma coisa.
        Alguma coisa.
        Hã?…
        Então Ele não queria que Ela dissesse alguma coisa? Pois bem, Ela disse.
        Ó pá, assim não valia. Ela sabia muito bem o que Ele tinha querido dizer…
        Uma gargalhada fresca brotou da garganta dela. Pois sabia, mas Ela não resistiu.
        Bom, já que Ela não estava com muita vontade de falar, Ele ia fazer isso. Ele ia falar, falar dele. E falou. Falou coisas importantes e  coisas insignificantes. Falou ideias e manias. Falou gostos e desgostos.
        Pronto, Ele já tinha falado muito. Agora era Ela.
        E Ela falou. Falou do que Ela era, e do que Ela gostaria de ser.
        Ele sorriu.
        Ela também.
        A conversa estava muito agradável, mas Ele tinha que se ir embora.
        Ela olhou para o relógio. Também Ela, que já estava atrasada.
        Pagaram, cada um a sua parte.
        Ela olhou para Ele. Até qualquer dia.
        Ele olhou para Ela. Sim.
        Basta de meio.
        É o fim.








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